domingo, 3 de maio de 2015

Uma Garota no Meio do Caminho
Uma linda e pequenina garotinha com seus loiros cabelos organizados delicadamente em uma trança corria para longe de casa, mas, quanto mais corria mais se aproximava do que tanto tentava escapar. A delicada trança era mais um de seus simples feitos, afinal, não tinha ninguém para fazer por ela. Ninguém se importa. Corria, corria e corria, queria correr mais, mas suas curtas pernas não aguentariam. As pessoas dizem, isso é uma fase, é coisa de adolescente. Que tal culparmos a TPM? Para elas isso não é nada, como é bom desprezar as dores alheias. Ela senta em um tronco morto para recuperar o ar perdido. “Morto”. É uma palavra engraçada para o momento. Tudo ao seu redor parece morto, sentada lá, ela observa as árvores dolorosas em uma estrada escura. Ela não consegue ver os calorosos raios da luz do sol e a bela vida que cresce ali. Ela pensa e percebe que quer se deixar prender, há mais amor em uma prisão calorosa do que em uma liberdade fria. Ela vê um homem andando calmamente pelo outro lado da estrada, ele a vê e se encaram. Ela pensa que ele pode sequestra-la, será que ela lutaria contra? Não sei, nem ela mesmo sabe, então ninguém sabe. Se existir um Deus quem sabe Ele saiba, ou não. Ele muda seu caminho. Vai em direção a ela. Ela segura a respiração por um momento. Ele a olha de cima a baixo quando para a alguns passos dela. O que ele vai dizer? O que ele vai fazer? A pequena cabecinha loira está cheia disso. Ele diz, O que uma garotinha como você está fazendo aqui sozinha? Ela sente que quer bater nele. Como todos os outros. Ela rebate apenas em pensamento. Ela fica intrigada com seus olhos puxados, resolve tentar levar-se, o que de ruim pode acontecer? Ele a pega no colo e a leva para casa, ela fica sem entender nada. Em casa, todos ficam satisfeitos. Exceto ela, mas ela não faz parte da casa mesmo. Ela não quer mais, ser presa por ele é sufocante, agora ela prefere a liberdade fria que esbanjava. Novamente corria, corria e corria. Novamente ela senta no mesmo tronco morto. Novamente ela vê um homem. Parece um ciclo. Ele se aproxima dela assim como o outro. Devagar e determinado. Ele abre a boca, mas nada sai. Ela pensa, Por favor, não diga: O que uma garotinha como você está fazendo aqui sozinha?, por favor, não. Oi, tudo bem? É o que seus ouvidos recebem, ela o olha nos olhos escuros e se pergunta, Cadê a pena? Não existe. Ela responde. Oi! Tudo e com você? Não parece tudo bem, ele a surpreende. Ninguém nunca percebeu naquela mascara feliz que ela usava, mascara a qual ela queria que alguém quebrasse. Seu sorriso se desfaz. Ele não pergunta nada. Pega seu pequeno corpo e o joga em suas costas. E corre, corre, corre mais rápido que ela, que se delicia com o vento bagunçando seu cabelo solto, quebrando aquele mórbido ciclo infeliz.

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