Uma Garota no Meio do Caminho
Uma linda e pequenina garotinha com seus loiros
cabelos organizados delicadamente em uma trança corria para longe de casa, mas,
quanto mais corria mais se aproximava do que tanto tentava escapar. A delicada
trança era mais um de seus simples feitos, afinal, não tinha ninguém para fazer
por ela. Ninguém se importa. Corria, corria e corria, queria correr mais, mas
suas curtas pernas não aguentariam. As pessoas dizem, isso é uma fase, é coisa
de adolescente. Que tal culparmos a TPM? Para elas isso não é nada, como é bom
desprezar as dores alheias. Ela senta em um tronco morto para recuperar o ar
perdido. “Morto”. É uma palavra engraçada para o momento. Tudo ao seu redor
parece morto, sentada lá, ela observa as árvores dolorosas em uma estrada
escura. Ela não consegue ver os calorosos raios da luz do sol e a bela vida que
cresce ali. Ela pensa e percebe que quer se deixar prender, há mais amor em uma
prisão calorosa do que em uma liberdade fria. Ela vê um homem andando
calmamente pelo outro lado da estrada, ele a vê e se encaram. Ela pensa que ele
pode sequestra-la, será que ela lutaria contra? Não sei, nem ela mesmo sabe,
então ninguém sabe. Se existir um Deus quem sabe Ele saiba, ou não. Ele muda
seu caminho. Vai em direção a ela. Ela segura a respiração por um momento. Ele
a olha de cima a baixo quando para a alguns passos dela. O que ele vai dizer? O
que ele vai fazer? A pequena cabecinha loira está cheia disso. Ele diz, O que
uma garotinha como você está fazendo aqui sozinha? Ela sente que quer bater
nele. Como todos os outros. Ela rebate apenas em pensamento. Ela fica intrigada
com seus olhos puxados, resolve tentar levar-se, o que de ruim pode acontecer? Ele
a pega no colo e a leva para casa, ela fica sem entender nada. Em casa, todos
ficam satisfeitos. Exceto ela, mas ela não faz parte da casa mesmo. Ela não
quer mais, ser presa por ele é sufocante, agora ela prefere a liberdade fria
que esbanjava. Novamente corria, corria e corria. Novamente ela senta no mesmo
tronco morto. Novamente ela vê um homem. Parece um ciclo. Ele se aproxima dela
assim como o outro. Devagar e determinado. Ele abre a boca, mas nada sai. Ela
pensa, Por favor, não diga: O que uma garotinha como você está fazendo aqui
sozinha?, por favor, não. Oi, tudo bem? É o que seus ouvidos recebem, ela o
olha nos olhos escuros e se pergunta, Cadê a pena? Não existe. Ela responde.
Oi! Tudo e com você? Não parece tudo bem, ele a surpreende. Ninguém nunca
percebeu naquela mascara feliz que ela usava, mascara a qual ela queria que
alguém quebrasse. Seu sorriso se desfaz. Ele não pergunta nada. Pega seu
pequeno corpo e o joga em suas costas. E corre, corre, corre mais rápido que
ela, que se delicia com o vento bagunçando seu cabelo solto, quebrando aquele
mórbido ciclo infeliz.